segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O BARROCO

I


Responde a um amigo que mandava
perguntar a vida que fazia em sua prisão
Casinha desprezível mal forrada,
Furna lá dentro mais que inferno escura;
Fresta pequena, grade bem segura,
Porta só para entrar, logo fechada;
Cama que é potro, mesa destroncada;
Pulga que, por picar, faz matadura;
Cão só para agourar; rato que fura;
Candeia nem c’os dedos atiçada;
Grilhão que vos assusta eternamente;
Negro boçal, e mais boçal ratinho
Que mais vos leva que vos traz da praça;
Sem Amor, sem Amigo, sem Parente!
Quem mais se dói de vós diz: Coutadinho!
Tal vida levo, Santo prol me faça!

D. Francisco Manuel de Melo

Notas
1 Torre Velha, onde D. Francisco Manuel de Melo esteve preso de 1644 a 1653.
2 Caverna, cova.
3 Espécie de cavalo de madeira em que se torturavam os condenados.
4 Corrente metálica com que se prendiam as pernas aos acusados
.

I

Após leitura atenta do soneto transcrito, responda às seguintes questões:

1. Demonstre que neste poema a descrição está organizada do geral para o particular.

2. Recolha do texto algumas expressões que conferem à descrição uma carga de negatividade.

3. Indique em que medida esta "casinha desprezível" pode ser uma metáfora de "prisão".

4. Justifique a contradição existente nas afirmações do último verso do poema.

5. Proceda à análise formal do soneto:
5.1. Indique o esquema rimático.
5.2. Classifique as rimas da primeira quadra:
• quanto à disposição ou ligação entre os versos;
• quanto à acentuação;
• quanto às classes gramaticais das terminações ou frequência de uso;
• quanto aos elementos vocálicos e consonânticos das terminações.
5.3. Faça a escansão dos dois primeiros versos do soneto.
5.4. Classifique-os quanto ao número de sílabas métricas e quanto à posição das sílabas tónicas


II

Tendo em conta os textos do barroco estudados, demonstre a veracidade da seguinte afirmação:

O barroco é o contraponto da maneira clássica. O simples e claro dos processos clássicos insinua discreta e lentamente, encantando a inteligência e a alma inteira pela graça inabalável de uma beleza nua; o que o barroco visa, pelo contrário, é a explosão do espanto; é o dom de surpreender e de aturdir o espírito à força de ornamentar e de rebuscar.

António Sérgio, Ensaios, V, 2.ª ed, Lisboa


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